Até o momento, quatro imunizantes já trouxeram a público resultados da última fase de testes clínicos, com eficácia que varia entre 62% e 95%. Agora, anunciou-se que a CoronaVac chegou a no mínimo 50% de eficiência —o mínimo estabelecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para vacinas contra o novo coronavírus. Nessa hipótese, só uma a cada duas pessoas ficará protegida da doença ao receber a dose da vacina. A outra continuará suscetível ao novo coronavírus.
Cientistas explicam que nenhum imunizante é 100% eficiente. O grau de eficácia, no entanto, é importante para definir qual a cobertura vacinal será necessária para, de fato, frear a doença. No caso de eficácia mínima para a covid, mesmo se toda a população recebesse a dose, não haveria certeza de queda na transmissão do vírus.
"O índice de 50% foi estabelecido porque há uma pandemia e os especialistas não acreditavam que se conseguiria tão rapidamente chegar a uma vacina eficaz", afirma o médico imunologista Jorge Kalil, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor). "Mas é uma eficácia baixa, em tempo normais não seria utilizado como vacina."
Para o cientista, um eventual resultado de 50% não daria "tranquilidade" para a população. "Continua sendo necessário manter os cuidados pessoais", diz. "Ainda assim, a transmissão poderia ser crescente. É preciso saber, por exemplo, qual a eficiência em diferentes grupos etários. Em vacinas feitas com vírus inativado, como a CoronaVac, frequentemente a eficácia diminui para pessoas maiores de 65 anos."
Segundo Kalil, imunizantes tradicionalmente usados em campanhas de vacinação no país, como sarampo e febre amarela, apresentam eficácia superior a 95%. A exceção é a da gripe —produzida anualmente com os três tipos de vírus mais comuns em circulação.
"Às vezes, essa baixa eficácia acontece porque há muita cepa da gripe circulando concomitantemente", afirma. "Não é o caso do coronavírus que, até agora, não se conseguiu mostrar que as mutações genéticas têm impacto na imunização."
Outra vacinas
Em novembro, a Pfizer e a BioNTech anunciaram a conclusão da fase 3 dos testes clínicos da vacina contra a covid. Segundo as empresas, o imunizante apresentou uma eficácia de 95% e não registrou efeitos colaterais graves.
Com o resultado, ela já está sendo aplicada em países como Inglaterra e Estados Unidos. Diferentemente da CoronaVac, a vacina BNT162 é feita com tecnologia de RNA mensageiro. Ela traz as informações genéticas específicas da proteína do vírus que pode desencadear a resposta imune no corpo.
Esse mesmo princípio foi usado também pela Moderna, que no mesmo mês relatou eficácia preliminar de 94,5%. Vacinas de RNA são consideradas de terceira geração, modernas e fáceis de fazer. A contrapartida é que a molécula de RNA é muito instável e precisa ser mantida em temperaturas extremamente frias, de - 70°C, o que torna um desafio a sua conservação em países de baixa renda.
Já a Sputnik V, do Centro de Epidemiologia e Microbiologia Nikolai Gamaleya, é aplicada na Rússia desde o início do mês. Segundo o governo russo, a eficácia seria de 91,4%. No Brasil, os governos estaduais do Paraná e da Bahia já firmaram contratos individuais com o instituto para a aquisição do imunizante. Outra vacina com resultados conhecidos é a da Universidade de Oxford, desenvolvida em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, mas sobre a qual ainda pairam incertezas. Inicialmente, pesquisadores chegaram a divulgar eficácia de 90%. O resultado, contudo, seria apenas para um pequeno grupo de voluntários. No maior, o índice foi de 62%.
No entanto, apesar dos sinais que alimentam o otimismo, não há qualquer garantia de que no futuro próximo haverá uma vacina suficientemente boa para parar a pandemia. Por esse motivo, analisar todos os cenários possíveis e ter em mente um plano B no qual não exista vacina é um exercício necessário de responsabilidade e transparência.
Fonte:
Valor
BBC
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54436205
UOL
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