Em 1985, o regime militar dava seus últimos suspiros e, mesmo ainda existindo censura, havia uma expectativa de liberdade e democracia no ar. Esse clima de euforia que parecia contagiar o Brasil foi o principal combustível dos criadores do seriado, que queriam dizer de uma só vez tudo o que não podia ser dito antes na televisão. Armação Ilimitada se tornou um dos programas mais influentes na história da TV brasileira. O trio de protagonistas já era, em si, uma ousadia completa para o veículo: dois jovens dividiam oficialmente, e sem problemas, a mesma namorada, uma alusão ao filme Jules et Jim, de François Truffaut.
"Desde o fim do programa Os Trapalhões, em 1994, praticamente nada se salvava na programação dos canais (abertos ou pagos) no início da noite de domingo. Até maio deste ano, quando o Canal Viva começou a reprisar os episódios do seriado Armação Ilimitada, exibido originalmente na TV Globo entre 1985 e 1988. As aventuras de Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André de Biase) estão tatuadas na memória afetiva de quem, como eu, tem mais de 35 anos. Mas, graças à qualidade do texto e às inovações na linguagem, conseguem agradar também a quem é mais jovem.
Revendo o programa agora, eu me sinto um privilegiado por ter entrado na adolescência (dos 11 aos 14 anos) na companhia de Juba, Lula, Zelda (Andréa Beltrão) e Bacana (Jonas Torres). Ele era infinitamente melhor do que as atuais atrações dedicadas ao público teen com a exaurida Malhação à frente.
Claro que muita coisa é datada, são símbolos dos anos 80 das gírias ("chocante", "tô amarradão") ao figurino, passando pelos cenários e a própria estética , e que a ação se concentra muito no universo da Zona Sul carioca, o que hoje causa um certo incômodo. Mas o texto, a edição e a linguagem ainda dão um ar moderno ao seriado. O time de roteiristas incluía feras como Nelson Motta, Antônio Calmon e Patrícia Travassos, e a edição, capitaneada por João Paulo de Carvalho, misturava diversos elementos da cultura pop (quadrinhos, videoclipe, pop art, metalinguagem, desenho animado, esportes radicais). Tudo isso sob a batuta quase infalível de Guel Arraes.
Personagens
Juba (Kadu Moliterno) & Lula (André de Biase) - Dois amigos jovens que vivem juntos na Zona Sul carioca e têm uma pequena empresa de prestação de serviços, a Armação Ilimitada. Dentre as atividades a que se dedicam estão mergulho, pilotagem, competições esportivas e até mesmo trabalhar como dublês de filmes.
Zelda Scott (Andréa Beltrão) - filha do exilado político (Paulo José) e estagiária do jornal Correio do Crepúsculo, começa a ter uma relação amorosa com Juba e Lula, formando um triângulo amoroso nunca solucionado porque a moça não vê problema nenhum em amar os dois ao mesmo tempo.
Bacana (Jonas Torres) - um órfão muito esperto que se une a Juba, Lula e Zelda.
Chefe de Zelda (Francisco Milani) - Chamado apenas de "Chefe", o editor do Correio do Crepúsculo aparecia sempre caricaturizado de acordo com o que Zelda se referia a ele, sempre de maneira literal. Por exemplo, quando dizia que despachava os assuntos do jornal, aparecia num ritual de candomblé. Se ela o chamasse de nazista, ele aparecia vestido de Hitler, falando alemão e fazendo os gestuais.
Ronalda Cristina (Catarina Abdala) - melhor amiga de Zelda, e como esta mesma dizia, era a "rainha do último grito", ou seja, sempre aderia incondicionalmente à moda do momento.
Black Boy (Nara Gil) - DJ que narrava os acontecimentos direto de um estúdio de rádio.
Armação Ilimitada foi exatamente isso. Criada a partir de uma ideia de Kadu Moliterno e André De Biase, a série mostrava as aventuras dos dubles Juba (Moliterno) e Lula (De Biase) que tinham uma empresa chamada Armação Ilimitada. A Dupla de moradores da Zona Sul Carioca sempre estava envolvida com filmagens, esportes, surfe etc. Eram os heróis de ação da geração 80. Além deles, o seriado contava com a jornalista Zelda Scott (Andréa Beltrão), filha de um ex-exilado que retornou ao Brasil após a abertura e foi trabalhar para o Chefe (Francisco Milani) no jornal o Correio do Crepúsculo, Bacana, (Jonas Torres) um órfão que é adotado pelos heróis e por Ronalda Cristina (Catarina Abdala), a melhor amiga de Zelda.
Ah, claro… Zelda e os dois protagonistas formavam um triangulo amoroso e eles a chamam de “A nossa namorada”. Sim, era 1985 e eles quebraram a moral e os bons costumes ao assumir este relacionamento inusitado, e esta não foi a única coisa que eles quebraram.
A estética do seriado misturava linguagem de videoclipe, desenho animado e filme experimental com a trilha sonora e as referencias que faziam sucesso entre os jovens da época. Usando outros nomes e burlando direitos autorais, eles citavam Rocky, o lutador, O Iluminado, falavam de Ets (um deles acabou sendo o pai do bebê da Ronalda), de lugares esotéricos como São Tomé das Letras, citavam o Crepúsculo de Cubatão (famosa danceteria da era Dark) …
O programa brincava demais com a metalinguagem. Um bom exemplo era o Chefe, que sempre se transformava no que a Zelda falava, o uso de balões da fala, de pensamento e outros ícones tanto de HQs como de outros elementos da cultura pop contemporânea.
Como se isso não fosse o bastante, tínhamos o locutor Black Boy (Nara Gil) que era uma garota. A personagem, que jamais cruzou cenas com os outros, narrava o começo e os encerramentos dos episódios. Diferente de todo o resto, ela tinha uma levada mais soul music e, muitas vezes, tinha um grupo de instrumento de sopro para ajuda-la. Seu cenário supostamente foi inspirado numa cena do filme Warriors: Selvagens da Noite.
Se você não sabe ou não lembra, a abertura da série é na verdade, um riff de guitarra da musica Say What You Will, da banda Fastway, só que em 1985, quando lançaram o disco, disseram que era do Ari Mendes. Na trilha nacional, tinha Engenheiros do Hawaii, Leo Jaime, Legião Urbana e Capital Inicial e outras perolas do rock da época.
Curiosidades
O seriado inovou em diversos aspectos, tanto no texto quanto nas imagens. Os episódios eram narrados por Black Boy (Nara Gil), um DJ que tocava músicas e, ao mesmo tempo narrava e comentava as tramas, num cenário de estúdio radiofônico, provavelmente inspirado em personagem do filme The Warriors de 1979.
A trilha sonora, creditada a Ari Mendes, tem o riff de guitarra na abertura retirado quase que integralmente da música Say What You Will, da banda Fastway, em seu primeiro disco, de 1983.
Em 1989 o seriado foi sucedido pela série Juba & Lula, de curta duração.
Desde o seu término, a série já foi reapresentada várias vezes: em 1988, alguns episódios foram ao ar na Sessão Aventura; em 1990, foram uma das atrações do Festival 25 Anos; em 1997, quando a Globo perdeu os direitos dos jogos de futebol para o SBT e preencheu as tardes de domingo com reprises de programas antigos; e em 2005, comemorando os 40 anos da Rede Globo, no canal a cabo Multishow. De janeiro a abril daquele ano, foram reapresentados os três primeiros anos da série, na íntegra. Foi reprisada pelo Canal Viva, a partir de 1 de maio de 2011, substituindo o seriado "A Justiceira", em comemoração ao 1° ano do canal. Entre 2 de abril e 27 de junho de 2012, o Canal Viva realizou uma segunda reprise da série. Em agosto de 2007 foi lançado um box com 2 DVDs dos melhores episódios pela Som Livre. A série recebeu em 1985 o Prêmio Ondas, concedido pela Sociedade Espanhola de Radiodifusão, considerado o Oscar televisivo da Europa.
Kadu Moliterno, que interpretou Juba nas programações que fizeram sucesso na década de 1980, fez o anúncio em seu perfil no Instagram nesta terça-feira, 17.
Sem informar data prevista de estreia ou detalhes sobre gravações, o longa vai se chamar A Última Aventura. O ator falou da novidade com uma foto dele ao lado de André di Biasi, o Lula.
A série Juba & Lula foi ao ar pela TV Globo entre junho e julho de 1989 após o fim do programa Armação Ilimitada, que foi exibido entre 1985 e 1988 nas noites de sexta-feira.
História em Quadrinhos
Editora: Nova Fronteira – Edição especial
Autores: Régis Rocha Moreira (roteiro) e Hector Gómez Alisio (arte e cor).
Preço: não informado na edição
Número de páginas: 48
Data de lançamento: Dezembro de 1988
Sinopse
Juba e Lula enfrentam o Doktor Viktor e sua mirabolante droga Enganol, que cria super-homens instantâneos.
Positivo/Negativo
Armação Ilimitada é certamente um dos mais saudosos seriados da TV brasileira da década de 1980.
Estrelado pelos atores Kadu Moliterno (Juba) e André DiBiasi (Lula), foi ao ar entre 1985 e 1988, trazendo uma linguagem inovadora e deliciosamente pop, embalando aventura, humor, esportes radicais, surf music e quadrinhos.
Era um seriado tão bacana, que repercutiu em outros países, chegando a ganhar o prêmio Ondas, da Sociedade Espanhola de Rádio e Televisão de Barcelona.
Pegando carona naquele sucesso todo, a Nova Fronteira publicou dois álbuns em quadrinhos com a dupla Juba & Lula: Operação Super-Homem e Uma aventura na Amazônia.
O primeiro apresenta os heróis num rápido prefácio, enfatizando o pacto firmado ente eles, que diz: “Ser herói é lutar por aquilo em que se acredita, com força, nobreza e sabedoria”.
Tal qual o seriado de TV, a história é narrada pela DJ Black Boy, num tom bem debochado. Ela informa o leitor que, enquanto Juba e Lula estão a caminho da praia de Ipanema para pegar ondas maneiras, Doktor Viktor, disfarce do médico nazista Klaus Rekengelle (numa referência ao médico alemão Josef Mengele, que fugiu para o Brasil e aqui morreu afogado), está pondo em prática seu plano mirabolante, nas Ilhas Cagarras, em Ipanema, tendo como assistente a ex-espiã Ulla.
Doktor Viktor trabalha para a corporação multinacional SMEGMA – Sujeitos Misteriosos Empenhados em Grandes Malvadezas Associados, extraindo a essência de diferentes esportistas para produzir a droga Enganol, capaz de transformar instantaneamente um homem normal num super-homem. Como o efeito é de curta duração, ele entende que os candidatos a “Rambo” ficarão viciados e comprarão a droga a preço de ouro.
Na praia, Juba e Lula encontram um jovem japonês inconsciente e o levam até a “Morada dos Heróis”. O rapaz revela os planos do Doktor Viktor à dupla e pede ajuda para que o Enganol não seja comercializado. Juba e Lula, então, compram a briga e saem à caça do médico medonho.
A aventura tem um ritmo bom, mas é bastante datada, enfatizando a todo instante que produtos importados eram inferiores aos nacionais (na época em que a HQ foi produzida, estava ocorrendo no Brasil a primeira etapa da política de redução das tarifas de importação, assim uma leva de produtos baratos e de qualidade duvidosa chegou por aqui).
Os diálogos também são datados, repletos de jogos semânticos, mas terminam sendo um deleite para quem vivenciou o período.
O ponto forte do álbum é a arte realista de Hector Gómez Alisio, exímio ilustrador argentino radicado no Brasil, cujos trabalhos mais conhecidos são as HQs de Buffy – A caça-vampiros, episódio da série da DC Comics What If, e a graphic novel brasileira Samsara, escrita pelo cineasta Guilherme de Almeida Prado e publicada pela Globo.
Este álbum de Juba & Lula não é difícil de achar nos sebos virtuais e é um banho de nostalgia para os kyodais oitentistas.
Fonte:
Estadão
Super Ninguém
https://superninguem.com.br/2020/05/07/armacao-ilimitada/
Universo HQ
http://www.universohq.com/reviews/juba-lula-operacao-super-homem/
O Tempo
Gazeta do Povo
Memória Globo
https://memoriaglobo.globo.com/entretenimento/series/armacao-ilimitada/
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