A História da Imprensa Marrom

ética jornalística é o conjunto de normas e procedimentos éticos que regem a atividade do jornalismo. Ela se refere à conduta desejável esperada do profissional. Portanto, não deve ser confundida com a deontologia jornalística ligada à deôntica. A deontologia se refere a uma série de obrigações e deveres que regem a profissão. Embora geralmente não institucionalizadas pelo Estado, as normas da ética jornalística são consolidadas em códigos de ética que variam de acordo com cada país.
Atualmente, o jornalismo oscila entre a imagem romântica de árbitro social e porta-voz da opinião pública e a de empresa comercial sem escrúpulos que recorre a qualquer meio para chamar a atenção e multiplicar suas vendas, sobretudo com a intromissão em vidas privadas e a dimensão exagerada concedida a notícias escandalosas e policiais.
Jornalismo é também definido como "a técnica de transmissão de informações a um público cujos componentes não são antecipadamente conhecidos". Este particular diferencia o jornalismo das demais formas de comunicação. Atualmente, o termo "jornalismo" faz referência a todas as formas de comunicação pública de notícias e seus comentários e interpretações. O tipo de jornalismo de ética duvidosa ou contestável é chamado de imprensa marrom.
Ela foi inspirada na expressão americana yellow press (“jornalismo amarelo”), que surgiu no final do século XIX a partir da concorrência entre os jornais New York World e The New York Journal. ... “Assim, a expressão 'imprensa marrom' originou-se numa denúncia contra a própria imprensa marrom”, afirma Dines.
A disputa nos bastidores foi tão pesada que o amarelo do cobiçado personagem acabou virando sinônimo de publicações sem escrúpulos. Em língua portuguesa, a expressão teve sua cor alterada no Brasil em 1959, quando a redação do jornal carioca Diário da Noite recebeu a informação de que uma revista chamada Escândalo extorquia dinheiro de pessoas fotografadas em situações comprometedoras.

Penny é a menor divisão da moeda inglesa, a libra esterlina. A expressão que se criaria no imaginário anglo-saxão, penny press, corresponderia a uma imprensa de centavo, tão acessível e tão popular, a ponto de ao custo de dois centavos ser possível remeter-se um jornal para a leitura de alguém. Não se tratava, porém, de uma imprensa de assinatura, mas de um filão cuja fórmula consistia exatamente em difundir notícias curtas e de interesse geral, em contraste com as notícias de caráter ideológico e analíticas, típicas da imprensa criada para difundir ideais político-partidários. A penny press surgia para a venda imediata, direta e prática ao consumidor, por meio dos jornaleiros, cujo ícone, no sentido iconográfico mesmo, veio a ser o de uma criança com a boca escancarada, apregoando: “Extra, extra!” [Jornaleiros, ou seja, ‘pagos à jorna’ (jornada); ardina (étimo português)].
penny press é um fenômeno bem datado, referenciado em dicionários de comunicação e constantemente citado pelos que têm pesquisado as teorias do jornalismo, como o professor Jorge Pedro Sousa [Construindo uma teoria do jornalismo. Em: www.bocc.ubi.pt, p. 9], autor de várias obras nesse campo. E é ele que vai fazer sobre essa modalidade de imprensa o seguinte registro:
A imprensa noticiosa tem raízes na primeira geração da imprensa popular que desponta nos Estados Unidos nos anos vinte e trinta do século XIX e na imprensa de negócios que floresce a partir do século XVIII. Essa primeira vaga de jornalismo predominantemente noticioso (penny press) vai-se impor ao jornalismo predominantemente opinativo (party press) até ao final do século XIX, motivada, entre outros factores, pelo aumento da informação circulante devido à generalização do telégrafo e à melhoria dos transportes e das vias de comunicação. Em Portugal, a fundação do Diário de Notícias, no fim de 1864, assinala precisamente essa viragem noticiosa do jornalismo.
Penny press:literalmente, imprensa de centavos [TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo. Florianó­polis: Insular, 2005, p. 50, “O novo conceito de produção jornalística pode ser exemplificado com o New York Sun, primeiro jornal de massa que surge em 1833, o New York Herald, criado em 1835, e o La Presse, lançado em Paris em 1836]. No plural, porque, enquanto os jornais tradicionais eram vendidos por seis centavos, os ‘novos’ jornais eram vendidos pela metade, ou seja, três centavos, nos EUA. A designação penny press foi, portanto, pejorativa, preconceituosa, conotação para ‘imprensa barata’, jornalismo sem qualidade. Teria, já àquela altura, despontado a distinção entre ‘cultura de massa’ e ‘cultura de elite’, mais tarde presente nas análises dos pesquisadores que vieram mapear as características de um fenômeno mais amplo que veio a ser designado por indústria cultural, denominação preferida pelos pensadores da chamada “Escola de Frankfurt” em relação à expressão “cultura de massa”, por entenderem que a massa – amorfa e desprovida de subjetividade própria –, não era capaz de produzir cultura. E a própria cultura que lhe era atribuída era, na verdade, uma produção estruturada por um sistema dominante e capaz de impor um ethos já pronto para ser consumido de forma acrítica, algo totalmente inverso à ideia de uma sociedade auto-reflexiva e, consequentemente, autônoma e esclarecida. De forma mais ampla, a reprodutibilidade técnica que assiste em quantidade e velocidade ao novo paradigma de produção, circulação e consumo de jornais viria a ser designada de yellow press, em analogia às ‘páginas amarelas’ dos anúncios comerciais em catálogos e listas, gênese das atuais listas telefônicas, cujo miolo ainda é impresso em papel barato, aliás, chamado de papel-jornal. O barateamento da produção e o próprio barateamento qualitativo dos conteúdos viriam, no entanto, ser fundamentais para o estabelecimento de uma ‘economia política’ capaz de assegurar a grande escala sem a qual não haveria sustentabilidade para um dos princípios mais elevados da democracia que é a liberdade de imprensa, conceito polêmico, pois ao mesmo tempo de dupla interpretação: liberdade de imprimir (print) e liberdade de publicar (press). O princípio da liberdade (freedom) de imprensa foi colocado por Thomas Jefferson (1743-1826) acima do valor dos próprios governos e, por si, constitutivo da democracia: “Se eu tivesse de decidir entre um governo sem imprensa e uma imprensa sem governo, eu não hesitaria um momento em escolher a segunda alternativa” (1787).

Embora "imprensa marrom" seja normalmente considerada o equivalente da "yellow press" norte-americana, Leandro Marshall propõe uma diferenciação. Para ele, a imprensa amarela seria uma fase anterior, marcada pelo sensacionalismo, com fatos sendo exagerados nas páginas de jornais apenas com o objetivo comercial de atrair mais leitores. Já a imprensa marrom seria mais caracteristicamente definida como a manipulação da notícia com fins comerciais
Outros autores, porém, argumentam que o escândalo, a intriga política e a chantagem já faziam parte dos métodos utilizados pelos primeiros jornais sensacionalistas
Norbert Bolz aponta como principal característica desse tipo de jornalismo a comunicação direta, que abre mão de qualquer abordagem mais complexa sobre o mundo.

Fonte:
Observatório da Imprensa
Super Interessante

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